Cuba e Angola têm potencialidades para estreitar ainda mais os seus laços

Luanda (Prensa Latina).— A 50 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e Angola, o embaixador da nação caribenha, Oscar León, valorizou como excelentes os laços entre os dois países, mas com potencialidades para crescer economicamente.

Por Karina Marrón

Correspondente-Chefe em Angola

Em conversa com Prensa Latina, o diplomata fez uma revisão de este meio século de estreitos laços que transcendem o âmbito da diplomacia e remontam mesmo antes da proclamação da independência angolana, em 11 de Novembro de 1975.

"As relações políticas, econômicas e de cooperação entre os dois países podem ser qualificadas de excelentes, embora não estejamos satisfeitos com todos os resultados alcançados.

"Devemos reconhecer que se pode fazer ainda mais na esfera comercial e económica, porque as potencialidades existem. Os Governos de ambos os países têm a vontade e a decisão de avançar com projectos conjuntos em sectores como a agroindústria, a energia e o turismo", afirmou o embaixador.

LAÇOS ESTABELECIDOS NA HISTÓRIA COMUM

Leon ressaltou que ambas as nações têm uma história comum que serviu de base para as relações actuais.

Lembrou que numerosos homens e mulheres foram levados para a Cuba colonial dos territórios actuais da República de Angola, para serem escravizados; um processo cruel que, por outro lado, teve um impacto inevitável na formação da cultura, as tradições e identidade do povo cubano.

Lembrou, além disso, que em 1965 o Comandante Ernesto Guevara da Serna "Che" e o doutor António Agostinho Neto, junto com outros camaradas, reuniram-se, o que marcou o início do apoio à luta dos angolanos por sua independência.

"Lá foi acordado o envio de assessores cubanos para treinar os combatentes da guerrilha do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA). Posteriormente, no despontar da independência nacional e a pedido de Agostinho Neto, tropas de internacionalistas cubanos vieram voluntariamente", detalhou.

Realçou que a Operação Carlota, como foi chamada aquela mobilização que tomou o nome de uma mulher africana escravizada que liderou uma rebelião na actual província cubana de Matanzas, desempenhou um papel importante na história de ambas as nações e das suas relações.

Como parte dela, 377 mil 33 combatentes internacionalistas chegaram a terras angolanas entre 5 de Novembro de 1975 e 1991, para apoiar os "corajosos combatentes das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) contra a invasão de forças estrangeiras e os seus aliados", enfatizou León.

O diplomata também destacou que 50 mil civis cubanos voluntários igualmente contribuíram durante quase 16 anos para o impulsionamento dos programas da nascente República em áreas como a educação, a construção e a saúde.

A luta do heróico povo angolano sob a direcção certa do MPLA e o apoio do povo cubano, guiado pelos líderes históricos Fidel e Raúl Castro, foram decisivos para a proclamação da independência nacional em 11 de Novembro de 1975, a preservação desta e da integridade territorial do país, asseverou.

Realçou que a vitória na batalha de Cuito Cuanavale, em 23 de Março de 1988, conseguiu a libertação da Namíbia e marcou o início do desaparecimento do regime fascista do apartheid na África do Sul.

"São vários os combates daquela época que fazem parte da história do irmão povo angolano em que combatentes internacionalistas cubanos tiveram a honra de acompanhar os seus bravos companheiros das FAPLA", relatou o embaixador, lembrou os dois mil e 77 filhos da nação caribenha que morreram em Angola.

Também mencionou o meio século das batalhas de Quifangondo, Ebo e Cabinda, três das principais acções militares que contribuíram ou consolidaram a independência angolana.

"As novas e futuras gerações de cubanas e cubanos devem e deverão conhecer essa história porque também é nossa, fruto do sacrifício e da coragem de nossos pais e avós", ressaltou León, que destacou que os fortes laços que unem Angola e Cuba foram forjados com sangue e suor.

CONTINUIDADE DE UMA COOPERAÇÃO BEM SUCEDIDA

O embaixador cubano também se referiu à cooperação que ficou estabelecida entre as duas nações em diferentes áreas, e que desde 1975 contribuiu para o desenvolvimento económico e social do país.

Mencionou questões-chave como a luta contra o analfabetismo, a ampliação dos serviços de saúde, a educação, a construção de infra-estruturas (imóveis, aeroportos, estradas e pontes, entre outros), a formação profissional, a cultura e o esporte.

"Dezenas de milhares de estudantes angolanos viajaram para Cuba para estudar, e ainda centenas recebem treinamento lá. De acordo com os dados das autoridades angolanas, mais de 45 mil estudaram em Cuba durante os 50 anos decorridos", comentou León.

O diplomata ressaltou que ambas as partes mantêm interesse em aprofundar essa cooperação mutuamente vantajosa, o que é evidenciado por vários acordos e memorandos de entendimento assinados.

Entre os mais recentes, citou os memorandos de entendimento sobre o sector turístico e da Agência Reguladora de Medicamentos (ARMED) e do Centro Estatal de Controlo de Medicamentos, Equipamentos e Dispositivos Médicos de Cuba (CECMED).

Também o referido à promoção de investimentos entre a sociedade de fomento da Zona Económica Especial de Luanda/Bengo e a Zona Especial de Desenvolvimento Mariel da nação caribenha, os três rubricados durante a visita a Angola do presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, em Agosto de 2023.

"Os respectivos planos nacionais de desenvolvimento a médio e longo prazo devem permitir a consolidação e o desenvolvimento das relações económicas e de cooperação", ressaltou o embaixador, e acrescentou que as reformas implementadas por ambos os governos abrem novas oportunidades para a participação de actores públicos e privados.

Acrescentou que o objectivo do governo angolano de diversificar a economia, avançar na segurança alimentar e consolidar a formação de quadros são oportunidades para uma maior participação cubana no desenvolvimento econômico e social da nação africana.

Considerou, ainda, que o modelo político, económico e social que ganha força em Cuba a partir da promulgação da Constituição de 2019 é uma oportunidade para os investimentos das empresas angolanas e a ampliação dos sectores de cooperação.

Disse que o décimo sexto período de sessões da Comissão Intergovernamental para a Cooperação Económica e Científica e Técnica entre Cuba e Angola deverá ter lugar em breve na nação caribenha para avaliar os progressos alcançados, as tarefas pendentes de cumprimento e os planos a desenvolver no futuro.

O embaixador ressaltou que as visitas de alto nível em ambos os sentidos, que foram várias nos últimos anos, deram um impulso significativo aos laços bilaterais; assim como os acordos de colaboração entre o MPLA e o Partido Comunista de Cuba, e entre os respectivos parlamentos.

UM RECONHECIMENTO AO SACRIFÍCIO

Ao se completar este 15 de Novembro, meio século das relações diplomáticas entre os dois países, no contexto das comemorações angolanas pelos 50 anos de independência, ganham grande significado as medalhas comemorativas entregues a figuras cubanas que marcaram este período de tempo.

"É um reconhecimento à nossa história comum, ao sacrifício de homens e mulheres dos dois países, aos heróis e mártires que fizeram com que os nossos laços com sangue e coragem se consolidaram", afirmou León.

Em particular destacou as condecorações, na Classe de Honra, concedidas aos líderes históricos, Fidel e Raúl Castro, e disse que foi emocionante a ovação proporcionada ao Comandante-em-Chefe no momento de ser entregue, a título póstumo, a medalha.

Outros 17 combatentes internacionalistas cubanos em Angola foram reconhecidos pela data, frisou o diplomata, que igualmente destacou o fato de um hospital ser denominado Comandante Raúl Díaz-Argüelles em homenagem ao General-de-Brigada, o que expressa a vontade de homenagear os heróis comuns.

O embaixador sublinhou que, além de dignificar essa história comum, "Angola tem apoiado historicamente Cuba na luta contra o injusto e cruel bloqueio económico, comercial e financeiro imposto pelo governo dos Estados Unidos".

Em especial mencionou a "esmagadora condenação a essa política", e à inclusão da nação caribenha na lista de Estados alegadamente patrocinadores do terrorismo, que fez o presidente João Lourenço no seu discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas no passado mês de Setembro.

Também o apoio à resolução contra o bloqueio apresentado pela trigésima terceira vez consecutiva na ONU, aprovada com o apoio majoritário da comunidade internacional

O reconhecimento a Cuba e o seu papel na defesa da independência e integridade territorial de Angola, bem como o seu desenvolvimento económico e social, igualmente esteve na mensagem à nação dirigida pelo mandatário angolano no acto central pelo 50º aniversário da independência nacional.

Oscar León avaliou que as palavras de Raúl Castro em 27 de Maio de 1991 definem muito bem o significado da relação dos dois países, quando referiu que "Angola é uma página brilhante, limpa, honrosa, transparente na história da solidariedade entre os povos, na história do internacionalismo" e na contribuição dos cubanos para a causa da liberdade e do melhoramento humano.

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