Intervenção do Ministro das Relações Exteriores da República de Cuba, Exmo. Sr. Bruno Rodríguez Parrilla, na reunião plenária convocada em virtude da resolução 76/262, pelo uso do veto dos Estados Unidos da América no Conselho de Segurança.

Intervenção do Ministro das Relações Exteriores da República de Cuba, Exmo. Sr. Bruno Rodríguez Parrilla, na reunião plenária convocada em virtude da resolução 76/262, pelo uso do veto dos Estados Unidos da América no Conselho de Segurança.

Senhora Presidente,
O governo dos Estados Unidos bloqueou mais uma vez, com o abuso do privilégio de veto no Conselho de Segurança, os esforços da comunidade internacional para pôr fim ao massacre perpetrado por Israel em Gaza. Confirma assim a sua cumplicidade histórica com a Potência Ocupante e garante a impunidade do genocídio, do extermínio, da limpeza étnica, do castigo coletivo e do apartheid — todos, crimes contra a humanidade.
Longe de contribuir para a paz e a segurança internacionais, que constituem a razão de ser desse órgão principal das Nações Unidas, contribui com o veto para a perpetuação da barbárie sionista contra o povo palestiniano e torna-se igualmente responsável por ela.
Põe em causa a suposta intenção de uma mediação justa para alcançar um acordo de cessar-fogo permanente e duradouro. O apoio político, militar, logístico e financeiro sustentado dos Estados Unidos a Israel é uma clara expressão do duplo padrão e da parcialidade que caracterizam a política norte-americana.
Também o são a recente visita a Israel do Secretário de Estado norte-americano em apoio ao crime, e a intenção de silenciar a voz dos nossos irmãos palestinianos neste foro universal. A decisão unilateral e arbitrária de revogar e negar vistos aos integrantes da delegação palestiniana, que impediu a sua devida participação no Segmento de Alto Nível do 80.º Período de Sessões desta Assembleia-Geral, viola o Acordo sobre a Sede de 1947.
Quinze palestinianos morrem todos os dias por desnutrição, 12 deles são crianças, reféns de uma operação colonial de assentamento e deslocamento forçado do território que lhes pertence. Estima-se que pelo menos 132 mil crianças menores de 5 anos sofrem de desnutrição aguda e mais de 43 mil correm risco de morrer. O número total de mortos confirmados em consequência da agressão israelita, apenas na Faixa de Gaza e desde 7 de outubro de 2023, ascende a 66.148, aos quais se somam 168.716 feridos e aleijados.
É inadmissível que Israel continue a utilizar a fome, a distribuição de alimentos e a ajuda humanitária como armas de guerra. Privar de água, eletricidade, medicamentos e combustível uma população civil sitiada não é uma estratégia militar, mas sim um crime contra a humanidade, um castigo coletivo, um genocídio.

O desprezo do governo de Israel pelos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, pelo Direito Internacional, pelo Direito Internacional Humanitário e pelos apelos de paz da comunidade internacional, tem igualmente orientado os seus ataques contra outros países do Médio Oriente, como o Líbano, a Síria, o Irão e o Iémen. O caso mais recente, a violação da soberania do Estado do Qatar, nação que desempenhou um papel construtivo nos esforços de mediação, constitui mais um exemplo da agressividade do regime sionista contra os Estados vizinhos.
É urgente um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza e a retirada das forças de ocupação israelitas. Israel deve permitir o acesso de ajuda humanitária suficiente, sem condições nem limitações, e deve autorizar o trabalho indispensável da UNRWA.
Cuba reafirma o seu compromisso e apoio à causa palestiniana e reitera a sua firme condenação ao genocídio perpetrado por Israel em Gaza, com o objetivo de exterminar ou expulsar a população desse território ocupado.
Reafirma a convicção de que só mediante a solução de dois Estados, com a criação de um Estado palestiniano independente e soberano dentro das fronteiras anteriores a 1967, com Jerusalém Oriental como a sua capital, que garanta o direito de retorno dos refugiados, será possível alcançar uma paz justa e duradoura.
Os acordos e compromissos alcançados durante a Conferência Internacional de Alto Nível para a Implementação da Solução de Dois Estados devem ser implementados sem demora.
É momento de admitir a Palestina como membro de pleno direito desta Organização. Se o Conselho de Segurança, impotente perante o abuso do irritante privilégio de veto, persistir em impor-se como obstáculo a essa aspiração, esta Assembleia-Geral, enquanto órgão mais universal e representativo da comunidade internacional, deve declarar esse direito de forma inequívoca e identificar aquele que o impede com o maior rigor político.
A Assembleia-Geral pode fazer mais. A Assembleia está em condições de declarar o genocídio e o apartheid cometidos por Israel como aquilo que são: crimes contra a humanidade. Pode instar os Estados Membros a impor um embargo de armas contra Israel e a excluir esse país da participação em organizações e conferências internacionais sob os auspícios das Nações Unidas.
Deve exigir a abertura de todas as passagens fronteiriças, vias de entrada e corredores humanitários para garantir o acesso humanitário seguro e sem restrições, sob a supervisão direta da ONU, e instar os Estados em condições de o fazer a prestar assistência humanitária à população palestiniana.

Com esse fim, perante outras propostas e face à impotência do Conselho de Segurança, deve ser convocada com urgência uma sessão reatada do X período extraordinário de emergência da Assembleia-Geral, na qual se possa analisar e aprovar, por vontade maioritária, um conjunto integral de medidas que ponha fim à inação das Nações Unidas.
A causa palestiniana não é apenas uma questão política pendente, é a prova decisiva para a credibilidade do sistema multilateral, é a prova decisiva da capacidade da ONU para defender os propósitos e princípios para os quais foi fundada, precisamente quando se cumprem 80 anos da sua criação.
Muito obrigado.
(Cubaminrex)

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Multilaterales
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