Entrevista, publicada pela agência EFE no dia 08 de março de 2017, á atriz e realizadora cubana Mirtha Ibarra que está em Portugal para apresentar uma retrospectiva sobre o cineasta cubano Tomás Gutiérrez Alea.
Se Tomás Gutiérrez Alea 'Titón' estivesse vivo, mostraria a Cuba atual como sempre o fez, ou seja, "criticando o mal feito, mas com um grande amor à nossa realidade e à revolução", assegura a sua viúva, a atriz Mirtha Ibarra, que apresenta em Lisboa um documentário sobre a figura do cineasta.
Ibarra está em Lisboa como produtora de "Titón: de La Habana a Guantanamera" (2008), no qual expõe a versão mais íntima do que foi seu marido e um dos cineastas mais importantes de Cuba e da América Latina.
O cinema de 'Titón' refletia sempre a realidade, lembra a atriz em entrevista com a Efe. "Eu acho que isso estava sempre muito claro, que havia uma critica dura, penetrante, nunca superficial. Ele dizia que uma realidade que não se critica não pode nunca superar os seus erros", aponta.
Com um ritmo incansável, Ibarra, de 71 anos, aterrou na capital lusa para exibir o seu trabalho no festival cinematográfico FESTin, onde a figura de Gutiérrez Alea é objeto de uma retrospectiva.
"Receberam-me com todas as honras, muito bem", assegura a atriz, protagonista do mítico "Fresa y Chocolate", realizado pelo seu marido em 1993, e que foge, entre risos, da palavra "diva".
"O cinema cubano lutou muito contra o divismo, Titón não suportava isso. Sinto-me de uma maneira muito mais singela, atriz. Gosto que falem do meu trabalho, se ficou bem", esclarece.
Nessas boas críticas inscreve-se a sua estreia como produtora, "Titón: de La Habana a Guantanamera", uma longa-metragem surgida por causa do epistolário "Titón, volver sobre mis pasos", que recolhe a correspondência que manteve com figuras do mundo do cinema, desde Robert Reford a Alfredo Guevara.
A partir desse livro, que contém também cartas íntimas de 'Titón' à sua família, Ibarra sentiu "a necessidade de completar de alguma maneira a faceta dele como cineasta" com a versão que poucos conheciam.
"Fiz entrevistas a realizadores, atores, que faziam um pouco uma avaliação do que tinha significado a perda de Titón na filmografia", lembra.
Tomás Gutiérrez Alea (1928-1996) foi um dos realizadores mais prestigiados do cinema de autor em Cuba, com mais de vinte longas-metragens na sua carreira, entre eles, além da premiada internacionalmente "Fresa y Chocolate", "Una pelea cubana contra los demonios" ou "Guantanamera", o seu último trabalho.
Ibarra considera que Alea foi "o mestre do cinema cubano, e não só cubano", pela relevância que teve no cinema latino-americano.
O seu cinema, assegura, é "muito particular, porque é um cinema que tenta despertar o espectador".
"Procurava que fosse um cinema que inquietasse o espectador, e que este saísse para enfrentar a sua realidade e buscar soluções, não é um cinema de happy end", argumenta.
Essa e outras lições, aprendidas do trabalho que ambos realizaram juntos mas também de 23 anos de convivência, foram aplicadas por Ibarra para realizar este documentário, para o qual obteve ajuda, entre outros, do Ministério da Cultura de Espanha.
Enquanto apresenta o documentário e visita Lisboa e a monumental Sintra, uma cidade que lhe pareceu "feita para um conto de fadas", Ibarra procura financiamento para adaptar ao grande ecrã o seu último trabalho no teatro, "Neurótica anónima", uma tarefa difícil, reconhece.
Embora admita que um ator "sempre está à espera dos grandes papéis", assegura que não tem uma "personagem em específico" que gostaria de interpretar, simplesmente preferindo aqueles que "tenham grandes conflitos" e que representem um "desafio".
A oitava edição do festival português FESTin, que começou no passado 1 de março, conclui hoje, quarta-feira.
Entrevista publicada pela agência EFE em 08 de março de 2017 com a atriz cubana Mirtha Ibarra e diretor de visitar Portugal para apresentar um retospectiva on cineasta cubano Tomás Gutiérrez Alea.