Titães da solidariedade e do internacionalismo

Quis o acaso que em 14 de junho, com 83 anos de diferença, nasceram dois dos paladinos mais importantes do nosso martirológio americano: Antonio Maceo Grajales em 1845 em Santiago de Cuba e Ernesto Guevara de la Serna, em 1928 em Rosario, na Argentina. Ambos foram, além disso, porta-bandeiras em destaque da vanguarda antiimperialista continental, e da solidariedade e do internacionalismo como premissas da construção da Pátria Nova.

Antonio Maceo, de quem José Martí disse tinha tanta força na mente como no braço, viveu obcecado pelos sofrimentos e a sorte da irmã gêmea de Cuba, Porto Rico, a ilha que batia ao ritmo de suas emoções, privações e vitórias. Para deixá-lo patenteado ante a história como legado testamental, em 6 de junho de 1884 escreveu de San Pedro Sula, Honduras, ao patriota cubano Anselmo Valdés:

Quando Cuba for independente solicitarei do Governo que se constitua, permissão para fazer a liberdade de Porto Rico, pois não gostaria de entregar a espada deixando escravizada essa parte da América; mas se não coroar meus fins, entregarei o sabre pedindo a meus companheiros façam o mesmo. ”

Aquela obsessão jamais abandonou o incansável e culto guerreiro. Seu universo de justiça e ética revolucionária, ultrapassava as fronteiras de sua amada Cuba.

Maceo teve durante a guerra grande a oportunidade de combater e compartilhar sua sorte em combatentes de dissimiles latitudes. Seu grande mestre foi o general dominicano Máximo Gómez a quem encontrava um único defeito: “... intitular-se estrangeiro falando da política cubana; é a grande falta que tem para mim”. Na gloriosa brega junto de centenas de estrangeiros, forjou seu compromisso de gratidão para com outros povos.     

Não havia concluído a gesta dos Dez Anos e, em uma proclamação datada em 25 de março de 1878 aos moradores do Departamento Oriental, Maceo expôs seu ideário antilhano, “...devemos formar uma nova república assimilada com nossa irmã a de Santo Domingo e Haiti”. No final de 1880 e, instigadas por ele, brotaram no Departamento Oriental de Cuba as primeiras células da Liga Antilhana, com o propósito de fundar “...a Federação de Cuba, Porto Rico e Santo Domingo”.

No final de 1888, no Peru, conhece o equatoriano patriota Eloy Alfaro. Surgiu entre eles uma íntima amizade, filha da identidade de ideias políticas. Em março de 1894, Alfaro chegou à Costa Rica e fez contato em Nicoya com o general Maceo. Imediatamente começam o preparo de um contingente internacional expedicionário para a guerra de Cuba e Equador. Como magnetismo sem igual, o general Antonio Maceo atraiu em Costa Rica os revolucionários da América toda com a ideia de lutar pela nova Grande Colômbia, com as Antilhas inclusas. Daqueles dias diria o cubano Manuel de Jesús Granda:

“Naquela época havia em Costa Rica, uma plêiade de grandes homens exiliados dos países latino-americanos onde existiam ditadores. Esses homens eram grandes revolucionários, na sua maioria Generais. Haviam também escritores, grandes oradores, advogados e médicos. Todos eram políticos que não podiam voltar a seus respectivos países e, que quando tratar ao Gral. Maceo, pegaram-lhe muita estima e quase todos ofereceram-se para acompanhá-lo na grande obra da liberdade de Cuba”

Iniciada a nova gesta, jamais esqueceu seu compromisso com Porto Rico, chamando ao lado dele ao major-general porto-riquense Juan Rius Rivera, seu companheiro e amigo do 1968.  Maceo contagiou seus subordinados mais leais, com sua paixão solidária. Em julho de 1896, o então coronel Enrique Loynaz del Castillo, apresentou ao Conselho de Governo um projeto de expedição para a independência de Porto Rico. Um ano depois, em agosto de 1897, o general José Lacret Morlot, apresentou mais outro, para criar a Legião do Exército Libertador Cubano em Porto Rico. Respeito a este assunto, Lacret expressaria:  

“…seu sonho para depois da independência de Cuba era aquela de Porto Rico, associou-me a seus projetos e nesta campanha falamos várias vezes do particular me fazendo oferecer que caso ele morresse eu substituíra-o.”

A vida do Comandante Ernesto ‘Che Guevara’ marcha paralela em muitas ordens com a do Titã de Bronze. Além da coincidência da data de nascimento, ambos tinham uma clara ideia do perigo que representava o imperialismo norte-americano para nossos povos, possuíam uma assombrosa avidez pela leitura, uma permanente fé no futuro, uma voluptuosa paixão pela revolução e almas sem fronteiras.

Para o ‘Che’ a pátria era mais do que América. Sua quimera foi combater o imperialismo em qualquer lugar do mundo em prol do bem-estar dos povos.

Esse espírito justiceiro e quixotesco fez com que muito novo viajara pela América toda a fim de conhecer a fundo as entranhas do continente. Assim chegou à Guatemala para ser protagonista da luta contra a intervenção imperialista que derrubou o governo de Jacobo Arbenz em 1954, passando depois ao México onde estreitou relações com os exiliados nicaraguenses que combatiam a ditadura de Anastásio Somoza e, depois com Fidel Castro e os futuros expedicionários do Granma.

Convertido no primeiro combatente promovido a comandante do Exército Rebelde por Fidel, o já mítico guerrilheiro argentino tornou-se um símbolo da solidariedade y do internacionalismo. Apenas seu nome enaltecia a essência universal do pensamento e a prática política da Revolução Cubana.

Leal a suas ideias internacionalistas, apoiou no começo de 1959 o movimento guerrilheiro na Nicarágua e nos anos iniciais da Revolução, os combatentes do mundo todo que encontravam em Cuba a inspiração para lutar contra o imperialismo e o colonialismo. Sua palavra de comandante diplomático em seus percursos pelo terceiro mundo, levou sua imagem justiceira a diferentes cenários de confronto.  Cresceu sua figura como símbolo do mais puro sentimento de solidariedade.

O Congo conheceu sua tenacidade e entrega à luta dos pobres da terra. A Bolívia serviria de santuário para seu apostolado de revolucionário universal. Hoje, no longínquo povoado da Higuera, em plena serra boliviana, é venerado como o Cristo dos pobres, da justiça e dos milagres.

Em 7 de dezembro de 1962, por ocasião do aniversário da tombada em combate do general Antonio Maceo, parafraseando o herói cubano, expressaria o Che diante de seu túmulo em O Cacahual:  

…enquanto ficar na América, ou talvez, enquanto fique no mundo um agravo por desfazer, uma injustiça que reparar, a Revolução cubana não pode se deter, deve seguir em frente. ”

Sem quaisquer dúvidas, ambos paladinos estavam feitos da mesma estirpe.

 

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