Por: Ricardo Alarcón de Quesada
Muito disse-se e dizer-se-á sobre o grotesco show que teve lugar em Miami o 16 de junho e as mentiras e ameaças contra Cuba ali proferidas. O discurso de Trump, incoerente e torpe como todos os seus, deixou em claro ao menos duas coisas: que fará todo o que possa para endurecer a política contra Cuba, anulando os tímidos passos que tinha dado seu predecessor e que o atual Presidente é um mentiroso irremediable.
É costume lá no Norte misturar a política com o espectáculo, a informação com o divertimiento, ainda que seja, como neste caso, de péssimo gosto. Para quem observa-o desde fora é recomendável uma boa dose de dúvida cartesiana e a prudência necessária para não se deixar confundir. Sobretudo se trata-se do que diga alguém como o estrafalario ocupante da Casa Branca.
Com razão a congressista federal Barbara Lê, incansable lutadora pela justiça e os direitos civis, ao recusar o discurso de Trump, sublinhou a importância de brigar por evitar que as regulações específicas para traduzir em normas obrigatórias a diretora presidencial sejam ainda mais perjudiciales para os povos dos dois países. Ali mesmo nesse dia deu-se uma prova evidente da justeza de sua preocupação.
Em seu perorata Trump anunciou que ia emitir uma nova orden executiva para substituir a já derogada que tinha orientado a política de Obama em seus últimos dois anos. Ali adiante de todos, estampó sua assinatura no documento que aparece no lugar oficial da Casa Branca mas que ninguém leu.
O que disse não corresponde exactamente com o que subscreveu e isto último é o que vale, o que tem força legal e guiará a conduta de sua Administração. O contraste é evidente, por exemplo, no caso das remessas que recebem muitos cubanos na ilha de suas familiares residentes em Estados Unidos. Segundo o que falou em Miami tais remessas continuariam e não seriam afectadas.
Mas ali mesmo, no mesmo acto, sem esconder-se, assinou uma ordem que diz exactamente o contrário. A esta questão das remessas dedica vários parágrafos o documento titulado “Memorandum Presidencial para o Fortalecimento da Política de Estados Unidos para Cuba”, que assinado por Trump publicou a Casa Branca e com todas as letras estabelece que seriam milhões os cubanos residentes na ilha a quem não permitir-se-lhes-ia receber remessas.
Na Secção III, inciso (D) a definição de #8220;servidores &públicos proibidos do governo de Cuba” amplia-se agora para abarcar para além dos dirigentes do Estado e o Governo cubanos a seus servidores públicos e empregados e aos membros e empregados das Forças Armadas e o Ministério do Interior, aos quadros da CTC e aos dos sindicatos e os Comités de Defesa da Revolução locais. O professor William M. Leogrande calcula que tratar-se-ia a mais de um milhão de famílias.
Trump alardeó de que jogaria abaixo todas as medidas adoptadas por Obama e provavelmente se propõe o fazer. Mas sabe que isso contradiz os interesses e opiniões de alguns sectores empresariais vinculados ao Partido Republicano e por isso se escudó depois de sua retórica agressiva e sua jerga com frequência indescifrable. Com respeito ao tema dos cubanos e as remessas não lhe ficou outro remédio que empregar sua arma favorita: a mentira.
Terá que ver agora como redigem e aplicam esta nova ordem que pretende castigar ao conjunto da população cubana.
